terça-feira, 24 de agosto de 2010

“Eu vivo por ele! “: amor ou dependência afetiva?

Muitas pessoas procuram psicólogos por problemas afetivos, seja por que amam demais, seja por que amam de menos. Com o tempo, escarafunchando suas queixas, percebemos que, muitos desses que dizem que amam, no fundo, dependem afetivamente de outra pessoa. Mesmo em situações onde a dependência patológica é clara, a pessoa não consegue se livrar daquele relacionamento, pois se sente totalmente presa a ele.
No livro “Amar ou depender”, Walter Riso, um terapeuta que atua na Colômbia, compara os dependentes afetivos aos drogadictos ou viciados. “O vício afetivo tem as características de qualquer outra adição, mas com certas peculiaridades.” Quando uma paciente chega a seu consultório e lhe pede para ajudá-la a deixar de amar aquele homem que a maltrata tanto, Walter Riso responde que isso é impossível. Não podemos esperar deixar de amar e, sim, desenvolver nossa autoestima, autorrespeito e controle emocional para nos fortalecermos e percebermos que o que sentimos não é amor e sim dependência afetiva. “O viciado deve deixar de consumir, mesmo que seu organismo não queira fazê-lo.”

Quando perguntadas sobre o que seria uma boa relação amorosa, a maioria das pessoas responderia que é aquela baseada no amor. Porém, somente o amor não basta para a construção de uma relação saudável, é preciso respeito, sinceridade, comunicação clara, afinidade de gostos, etc. O que adianta o amor em sua forma pura? A vida é bem mais real do que isso! Desconfiemos daquelas pessoas que falam em alto e bom tom coisas tipo: “Vivo por ele e para ele”, “Ela é tudo para mim”, “Ele é a coisa mais importante da minha vida”, “Não sei o que faria sem ela”, “Se ele me faltasse, eu me mataria” e tantas outras ...

Segundo Walter, o diagnóstico da dependência está baseado nos seguintes pontos:

1. A dependência só aumenta com o decorrer do tempo, apesar dos maus tratos;
2. A ausência do parceiro causa enorme sofrimento;
3. Há o desejo de deixar o outro, mas as tentativas são em vão;
4. Grande investimento de tempo e esforço para poder estar com o outro;
5. Redução de seu desenvolvimento familiar, social e profissional.

Várias são as causas da dependência afetiva: imaturidade emocional, baixa autoestima, baixa tolerância ao sofrimento, à frustração, medo do abandono, etc. Ao invés de só buscar as causas, é importante perceber se aquela relação me faz crescer como pessoa e ao outro também. É preciso escutar os sinais do mundo, amigos e parentes sempre dão sinalizações de como estamos. É preciso que fiquemos atentos. E quando o sofrimento for maior do que a alegria numa relação amorosa, procure ajuda profissional, pois certamente esse padrão de relacionamento vem se repetindo há algum tempo em sua vida!

Termino com um texto do próprio Walter:

“A convivência não é um panaceia, mas tampouco é infelicidade total. O amor é um processo em ebulição permanente, vivo e ativo, no qual traçamos a cada instante nosso ecossistema afetivo, nosso lugar no mundo. É a operação pela qual nos adaptamos ao outro, sem deixarmos de ser nós mesmos. Podemos nos encaixar sem nos violentar, nos adaptarmos devagar e com ternura, como quem não quer ferir nem ser ferido. E essa união maravilhosa de ser dois que parecem um somente é possível compaixão e sem dependência afetiva.” (pp163)

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