sexta-feira, 30 de julho de 2010

Crianças: futuros adultos tiranos?

Só podemos falar de geração narcisista, se pensarmos na relação existente entre essas crianças e adolescentes e seus pais. Esses aprendem seus modos de existência a partir dos modelos que são transmitidos por essas figuras tão importantes, seus pais. Porém, todos esses personagens estão inseridos dentro de uma cultura e só podem ser compreendidos dentro da mesma. Há uma correspondência entre a idéia de infância e juventude na nossa sociedade e as estratégias de pais para cuidarem de seus filhos.

Voltando um pouco à história, verificamos que muitas mudanças ocorreram nos últimos tempos que influenciam os modos de vida pessoal e familiar dos sujeitos. Segundo Giddens, “entre todas as mudanças que estão se dando no mundo, nenhuma é mais importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais - na sexualidade, nos relacionamentos, no casamento e na família. Há uma revolução global de curso no modo como pensamos sobre nós mesmos e no modo como formamos laços e ligações com outros. É uma revolução que avança de maneira desigual em diferentes regiões e culturas, encontrando muitas resistências.” Giddens denomina “mundo em descontrole” a esse conjunto de transformações sócio-culturais que afetam nossas relações intimas, exigindo transformações que encontram resistências.

Em relação à relação pais e filhos, podemos dizer que esse é um assunto razoavelmente recente em termos de história. Na família tradicional, as crianças careciam de direitos, assim como as mulheres. As crianças não eram reconhecidas como indivíduos e, como a taxa de mortalidade infantil era muito alta, pouca importância se dava a elas. De lá para cá muita coisa mudou. O foco passou a ser a família nuclear, ou seja, papai-mamãe-filho e amar passou a ser função da família e não só as trocas econômicas. Os filhos passaram a ser indivíduos que precisam de proteção. A Psicologia também foi responsável por isso ao destacar o período da infância e sua importância no desenvolvimento emocional de um ser humano. A forte tendência psicologizante que tomou conta tanto da literatura leiga quanto das publicações científicas sobre o assunto confundiu os pais, levando-os a uma postura excessivamente liberal, com sérias dificuldades em impor limites aos filhos.

Segundo Giddens, “na família tradicional, os filhos eram uma vantagem econômica. Hoje, nos países ocidentais, um filho, ao contrário, representa um grande encargo financeiro para os pais. A decisão de ter um filho é muito mais definida e específica do que costumava ser, e é guiada por necessidades psicológicas e emocionais. Os temores acerca do efeito do divórcio sobre os filhos e a existência de muitas famílias sem pai têm de ser compreendidos contra o pano de fundo das expectativas muito mais elevadas que temos com relação ao modo como as crianças deveriam ser cuidadas e protegidas.”

Portanto, voltando ao início, penso que os pais encontram-se perdidos ainda em achar o tom que deve ser dado na relação com seus filhos. Como hoje os filhos são desejados e planejados e feitos para serem amados e não mais para dar dinheiro a suas famílias, pais não conseguem conjugar os verbos amar e educar. Educar pressupõe dar limites e sustentar sua posição e até ser odiado por seu filho em algum momento por frustá-lo. O que percebemos ao nosso redor, seja na clinica ou em rodas de amigos, é que as crianças viraram verdadeiros “tiranos”, são eles que mandam em casa, eles são o centro das atenções, a eles não pode faltar nada. Fortalecidos recentemente pelo projeto de lei que proíbe as palmadas e retira dos pais o direito de resolverem o que fazer com seus filhos, estamos criando verdadeiros deuses intocáveis, futuros bad boys.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A dor de perder alguém querido!

“Depois de um incêndio, aparece uma nova flora, depois da erupção de um vulcão, a paisagem se modifica, depois do desaparecimento das raposas, os ratos proliferam, depois da morte de um parente, a família se reorganiza.” (Cyrulnik, 2009, 23)

Embora saibamos que vivenciaremos perdas ao longo de nossas vidas, lidar com elas diretamente sempre é muito difícil. Toda perda de um ente querido abala profundamente nossa existência, lembrando-nos que somos finitos e impotentes diante dessa dura realidade da vida. Separar-se de alguém significativo em nossas vidas e aprender a viver sem ele é uma experiência dolorosa, porém necessária. Somente através do processo de luto conseguimos seguir em frente, dando significado e elaborando aquela perda.

Pouca atenção se dá ao processo de luto em nossa sociedade. Hoje, através de uma visão sistêmica, sabemos que os eventos estressores que ocorrem com um indivíduo afetam todo seu sistema, principlamente o familiar, causando danos nos âmbitos afetivo, físico, comportamental, social e espiritual. Não nos damos conta de que, muitas vezes, um processo de luto mal elaborado gera graves danos em gerações seguintes, produzindo uma maneira particular de lidarem com processos de transição. A maneira de uma pessoa e sua família lidarem com seus processos de luto depende de suas crenças e da possibilidade do sistema estar aberto para construir novas.

Atrapalhados pela cultura e por uma sociedade que só pensa em ganhos e acúmulos, as pessoas que perdem outras se sentem, muitas vezes, discriminadas e acabam isolando-se. O sentimento de solidão é o mais frequente em casos de perdas significativas. A maioria dos amigos cumpre os rituais, como velório, enterro e missa de sétimo dia e depois não acompanham mais o enlutado, por dificuldade de falarem sobre aquilo, por não saberem o que dizer, ou por não saberem lidar com aquele horror, pensando que podia ser com eles. Por isso, a rede social em volta é de extrema importância para o enlutado na hora da perda de alguém significativo, ajudando-o no processo de elaboração e reconstrução de sua vida, fornecendo uma sensação de continência.

O conceito de resiliência, em Psicologia, nos fala da capacidade de transformar-se, integrando as vivências traumáticas. Ao mesmo tempo em que elas podem ser um risco para a saúde das pessoas que sofrem perdas, podem tornar-se oportunidade de crescimento, fazendo com que o indivíduo descubra recursos que nem sabia que tinha, ampliando seu modelo de self. Elaborar a perda implica defrontar-se com nossa falsa onipotência, com o fato de que o mundo e os seres queridos não estão sob nosso controle. Em última instância, significa depararmo-nos com a possibilidade do limite total, a morte.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O projeto de lei polêmico que levanta a mão contra a palmada

Não se fala em outra coisa em rodas de pais e mães, o novo projeto de lei nº 2654, da deputada Maria do Rosário. O projeto de lei revê o artigo 18 do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) que diz: “É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.” Pelo novo texto fica vedado aos pais usar castigos corporais de qualquer tipo na educação dos filhos, estabelecendo o direito da criança e do adolescente a não serem submetidos a qualquer forma de punição corporal, mediante a adoção de castigos moderados ou imoderados, sob a alegação de quaisquer propósitos, ainda que pedagógicos, e dá outras providências.”
Prática corriqueira na educação do passado, a partir do final do século XX, a punição física passa a ser mal vista por psicólogos e profissionais da educação, assim como qualquer castigo físico direcionado às crianças.  É a partir da década de 80 que começam a surgir os primeiros programas específicos para atendimento dessa problemática e em 1990 é criado o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Segundo Carmem Oliveira, subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente: “Nossa preocupação não é com a palmada. Nossa preocupação é com as palmadas reiteradas, e a tendência de que a palmada evolua para surras, queimaduras, fraturas, ameaças de morte".
Polêmico desde o início, questionamos que tipo de pai esse novo instrumento vai pegar, já que o Código Penal já prevê e pune quando há situação de maus-tratos à criança - vide o caso da procuradora Vera Gomes, tão explorado na mídia. Outro ponto polêmico e no qual os pais que ouvimos tem discutido é até onde vai a interferência e o poder do Estado na educação de seus filhos. Segundo a advogada Renata di Pierro, em entrevista à revista Veja, “ (...) a lei confronta o poder familiar, que é o direito do pai e da mãe de exercer sua autoridade”. Indo um pouco mais além, filhos adolescentes rebeldes também podem usar a lei para punirem seus pais e livrar-se dos limites impostos por eles.
Bem, muita discussão ainda deve haver a fim de tornar este projeto mais claro e definir os limites do que á castigo físico e em que situações os pais se excederam. Psicóloga do Instituto de Psiquiatria da USP, Jonia Lacerda, defende a palmadinha em crianças de até 5 anos de idade, que ainda não tem a capacidade intelectual para entender conceitos abstratos. “Lançar um olhar mais duro, segura-la pelo braço ou mesmo dar um tapa leve no bumbum pode ser mais adequado e eficiente do que discorrer durante horas sobre uma regra que ele infringiu”.
A discussão está apenas começando ...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Women In Art



Women in Art


Philip Scott Johnson (2007)

La vidéo "Women in Art", réalisée par Philip Scott Johnson, est une hymne impressionnante consacrée à l'histoire de l'art à travers l'image de la femme.
La musique est celle de Yo-Yo Ma jouant la Sarabande de la Suite pour Violoncelle n° 1 de Bach.

domingo, 11 de julho de 2010

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA: ANALISANDO O "CASO BRUNO"


O caso do goleiro Bruno nos leva a discussões infinitas sob diversas perspectivas. Podemos falar da idealização do jogador de futebol, da busca pela fama, do desequilíbrio entre formação acadêmica e salário num país tão pobre como o nosso, traição, psicopatia e tantos outros. 
O comportamento do jogador nos assusta pela frieza e pela calma com as quais apareceu diante das câmeras de televisão, mas mais ainda nos assusta sua história familiar. Ele foi abandonado pelos pais quando tinha três meses de vida e criado pela avó paterna. O pai, que já é falecido, teve a prisão pedida sete vezes e a mãe foi investigada por tentar matar a tiros uma mulher em 1996, após uma noite regada à cocaína, além de ser alcoólatra. Seu irmão foi preso há dois anos por roubo. Histórias polêmicas fora do campo preenchem seu currículo. Em 2008, após festa em seu sítio na qual uma garota de programa foi agredida por outro jogador de futebol e prestou queixa, disse: Quem nunca brigou ou até saiu na mão com uma mulher.”
A família é responsável por funções como proteção, afeto e formação social e se constitui como uma das principais bases da vida psíquica das pessoas e espaço privilegiado na transmissão de valores, propiciando a construção de um modelo relacional transmitido aos filhos e a suas gerações seguintes. É preciso que os pais desenvolvam a autonomia de seus filhos, não se esquecendo de lhes dar proteção, tudo numa boa medida. É esse binômio que faz com que crianças tornem-se adultos independentes, confiantes e saudáveis. Através desse suporte, filhos sentem-se amados e tornam-se pessoas capazes de amar porque desenvolvem uma boa auto-estima.

Por outro lado, famílias denominadas na Psicologia por disfuncionais podem transmitir normas desviantes através do modelo de comportamento dos pais para os filhos. Os problemas de vinculação familiar advêm, em sua maioria, daqueles lares onde faltam habilidades para a criação dos filhos, reduzindo as chances de transmissão efetiva de normas sociais saudáveis.

O caso Bruno nos faz pensar na enorme importância da família e de sua função no cenário social como propagadora de valores, já que é em seu território que se formam os primeiros cidadãos. Uma história de abandono familiar aliado a uma rápida e espetacular ascensão social, dentro de uma sociedade com falta de ídolos positivos, somado a  características pessoais não pode produzir um ser humano sensível, ético e capaz de amar e ser amado. Precisamos cuidar de nossos filhos !

Currículo numa mão e fraldas na outra: Mães de volta ao lar


Sabemos que cada vez mais as mulheres crescem num terreno anteriormente dos homens: o do sucesso profissional. Não ocupam mais cargos abaixo ou empregos de meio expediente para voltarem correndo para casa. Hoje as mulheres concorrem lado a lado com os homens na disputa de cargos altos nas empresas. Por isso mesmo, torna-se cada vez mais difícil conciliar maternidade e carreira em tempos atuais.
A revista Veja desta semana publicou matéria falando da nova mulher que surge, as mães em tempo integral. Ex-executivas, profissionais liberais ou empresárias, elas abandonam suas profissões para cuidar dos rebentos, embora pensem em retornar às mesmas logo assim que eles cresçam. Segundo o IBGE, cresceu em 26% o número dessas mulheres na última década.
Porém, essas mulheres não são aquelas dos anos 60 que não tinham espaço no mercado de trabalho e que eram “obrigadas” socialmente a ter filhos. Segundo Beatriz Cardella, gestalt-terapeuta, “ter filhos deixou de ser uma obrigação social para se tornar uma opção muito vinculada à idéia de plenitude – experiência que as mulheres querem viver intensamente”.
Carregadas de culpa e de enormes conflitos, a maioria das mulheres (60%) ainda retorna ao trabalho depois de terem seus filhos, apesar desse novo cenário. Para essas mães, preocupadas com suas ausências, o Senado aprovou proposta de emenda constitucional que amplia de quatro para seis meses o prazo de licença-maternidade. A proposta segue para a análise da Câmara dos Deputados. A autora do projeto, Rosalba Ciarlini (IDEM-RN) que era médica pediatra antes de se tornar política, justificou sua proposta pela observação de que as mães retornam ao trabalho mais produtivas depois de passarem mais tempo com seus filhos, além da importância do período de 6 meses de amamentação para a saúde do bebê.