terça-feira, 27 de julho de 2010

A dor de perder alguém querido!

“Depois de um incêndio, aparece uma nova flora, depois da erupção de um vulcão, a paisagem se modifica, depois do desaparecimento das raposas, os ratos proliferam, depois da morte de um parente, a família se reorganiza.” (Cyrulnik, 2009, 23)

Embora saibamos que vivenciaremos perdas ao longo de nossas vidas, lidar com elas diretamente sempre é muito difícil. Toda perda de um ente querido abala profundamente nossa existência, lembrando-nos que somos finitos e impotentes diante dessa dura realidade da vida. Separar-se de alguém significativo em nossas vidas e aprender a viver sem ele é uma experiência dolorosa, porém necessária. Somente através do processo de luto conseguimos seguir em frente, dando significado e elaborando aquela perda.

Pouca atenção se dá ao processo de luto em nossa sociedade. Hoje, através de uma visão sistêmica, sabemos que os eventos estressores que ocorrem com um indivíduo afetam todo seu sistema, principlamente o familiar, causando danos nos âmbitos afetivo, físico, comportamental, social e espiritual. Não nos damos conta de que, muitas vezes, um processo de luto mal elaborado gera graves danos em gerações seguintes, produzindo uma maneira particular de lidarem com processos de transição. A maneira de uma pessoa e sua família lidarem com seus processos de luto depende de suas crenças e da possibilidade do sistema estar aberto para construir novas.

Atrapalhados pela cultura e por uma sociedade que só pensa em ganhos e acúmulos, as pessoas que perdem outras se sentem, muitas vezes, discriminadas e acabam isolando-se. O sentimento de solidão é o mais frequente em casos de perdas significativas. A maioria dos amigos cumpre os rituais, como velório, enterro e missa de sétimo dia e depois não acompanham mais o enlutado, por dificuldade de falarem sobre aquilo, por não saberem o que dizer, ou por não saberem lidar com aquele horror, pensando que podia ser com eles. Por isso, a rede social em volta é de extrema importância para o enlutado na hora da perda de alguém significativo, ajudando-o no processo de elaboração e reconstrução de sua vida, fornecendo uma sensação de continência.

O conceito de resiliência, em Psicologia, nos fala da capacidade de transformar-se, integrando as vivências traumáticas. Ao mesmo tempo em que elas podem ser um risco para a saúde das pessoas que sofrem perdas, podem tornar-se oportunidade de crescimento, fazendo com que o indivíduo descubra recursos que nem sabia que tinha, ampliando seu modelo de self. Elaborar a perda implica defrontar-se com nossa falsa onipotência, com o fato de que o mundo e os seres queridos não estão sob nosso controle. Em última instância, significa depararmo-nos com a possibilidade do limite total, a morte.

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